Dez pessoas à minha frente, mais três atrás de mim. O único empregado de serviço, apesar do seu ar soturno, não conseguia disfarçar uma prevísivel vontade de gritar. O calor abafado proveniente dos aparelhos de Ar Condicionado obrigavam todos os meus poros a esvaírem-se em suor e, pelas expressões faciais dos outros clientes, podia-se depreender que havia mais poros naquela situação. Subitamente surge um som estranhamente agudo, tipo panela de pressão, que rapidamente se sobrepõe ao ruído dos computadores e da pastilha elástica da menina atrás de mim. Olho para o empregado do balcão e noto, com admiração que o homem está a ficar corado. Não, vermelho, mesmo. Passou para uma tonalidade lilás (que por acaso combinava bem com a gravata) e... PUM! A cabeça do pobre coitado explode em serpentinas, confetis e, imagine-se, balões! Acto continuo, dois dos mexicanos que estavam na fila (e que eu não tinha visto) pegam nos seus reluzentes banjos e começam a debitar acordes dissonantes, ao mesmo tempo que o terceiro (o do bigode maior) grita "Andéle, andéle y arriba!" e desata aos tiros para o ar. Enquanto a minha mente se engasgava a tentar assimilar isto tudo, a gorda que estava à minha frente puxa as saias para cima e começa a dançar Can Can. Como se não bastasse, a moça da pastilha presenteou-nos com um fabuloso número de equilibrismo e contorcionismo (que belo biquini dourado). O que eu não estava mesmo à espera de ver foi o show homossexual que o Guarda Sequeira e o Guarda Pinto exibiram em cima do balcão... Isso foi demais para o meu mirradinho cérebro e ulceroso estômago. Quando voltei a mim a menina da pastilha elástica estava a abanar uma folha de papel para a minha cara. Já não havia confetis, nem tiros, nem biquini... Bem, biquini, não sei. A verdade é que logo vou beber um copo com ela e depois logo se vê se sempre há biquini ou não.