Fruta da época
Como todos sabem, ou deviam saber, pelo menos as pessoas do campo sabem, umas horas antes das chuvadas torrenciais que prenunciam o Inverno, o ar enche-se de formigas voadoras que saem das suas colónias com o intuíto de colonizar outras paragens. Não são diferentes de qualquer outra formiga, uma vez que as asas são um acessório provisório, um bocado como aquele aileron que pus na minha Renault 4L: está lá até aparecer o dono. Mas é giro ver um insecto normalmente rastejante voar desajeitadamente, batendo em tudo quanto se eleva do chão, pessoas, paredes, carros, animais, postes, mupis de touradas... Fico horas a olhar para aquela bicheza toda e a tentar imaginar o que lhes vai na alma. "Ena, aquele buraco no cimento 'tá mesmo a pedi-las... Se ao menos conseguisse aterrar ali..." e pumba! Vidro. Essa fabulosa invenção do Homens. Mas acho ainda mais piada, quando elas por fim aterram no chão e despem as asinhas. Parece que o pavimento da rua subitamente ganha vida. Mexe-se por todos os lados numa ondulação aleatória e sem nexo. É a minha altura preferida para sair e fazer jogging. Adoro a sensação de pisar batatas fritas.