Os Arquivos Sturu

Rezam as crónicas desse excelso individuo, que durante uma breve passagem pelo sul de Espanha lhe terá acontecido um dos mais bizarros episódios da sua vida, mas também terá sido um dos que mais lhe ensinou. Todos sabíamos que Sturu era parvo. O que não sabíamos era o grau de fealdade que o senhor possuía.
Estando Sturu num concorrido tasco, sentado ao balcão, saboreando o seu cálice de ágrio vinho tinto, parecia tudo correr bem ao nosso bem-aventurado viajante. No entanto, sem o saber, alguém congeminava um perverso plano para o liquidar, ali, naquela apinhada taverna. Subitamente, como um relâmpago, cai do céu uma mão que lhe acerta em cheio na nuca. Meio atordoado, Sturu, olha para a multidão com o intuito de identificar o agressor, mas este já havia desaparecido na turba. "Algum brincalhão" pensou Sturu. Não podia estar mais enganado. Momentos depois, outra traulitada! E o agressor esfuma-se de novo. Pouco depois acontece outra vez e Sturu pensa: "Mau..." O que aconteceu de seguida foi inacreditável! Não fossem os relatos tão concisos e nunca acreditaríamos no que aconteceu: o agressor revela-se como um espanhol, de 1.40m de altura e farto bigode, que se atira para cima do pacífico Sturu aos murros e pontapés, gritando com uma voz irritantemente nasalada: "Eres muy feo, hombre!" Os outros clientes da bodega depressa agarraram o furioso meliante impedindo o pior, Sturu, refazendo-se do susto, apenas olhava com cara de coitadinho encolhendo os ombros. Nem uma só palavra proferiu. Quanto ao pequeno espanhol, foi condenado por "tentativa de espancamento amaricado": esfolado vivo enquanto o esfregavam com limões verdes e o corpo dado a comer aos porcos vadios . A partir desse dia Sturu deixou de fazer a barba, pois só assim conseguiria cobrir a horrenda face que lhe deram à nascença e impedir mais mortes.